terça-feira, 19 de junho de 2018

Levítico

 Levítico

Introdução

O livro de Levítico tem uma ligação muito forte com o livro de Êxodo, pois este termina quando o tabernáculo é construído e o Senhor vem nele habitar através da sua glória, e Levítico contém as leis que Deus deu a Moisés durante os dois meses entre o termino do tabernáculo (Êxodo 40:17) e a partida de Israel do monte Sinai (Números 10:11).
Este título “Levítico” deriva-se das versões em grego e latim e não da versão hebraica, e pode não ser tão apropriado, pois corre o risco de se passar a ideia de que o livro trata apenas do sacerdócio levítico, o que na verdade não procede, pois boa parte dele contém instruções para todo Israel e princípios aplicáveis a igreja do Senhor dos nossos dias, sendo que os temas mais abordados nele são expiação e santidade.
O testemunho bíblico confere a Moisés a autoria de Levítico, pois o Senhor Jesus faz referência a um trecho do livro e o atribuiu a ele (Marcos 1:44), o mesmo também se repete com Paulo (Romanos 10:5).
O livro de Levítico é o terceiro escrito por Moisés e apresenta mais de cinquenta vezes a declaração de que nele estão contidas as palavras e a revelação que Deus deu diretamente a Moisés para o povo de Israel.

I A EXPIAÇÃO ATRAVÉS DOS SACRIFICIOS

1: O Holocausto a oferta de manjares e o sacrifício pacifico.
Embora a expiação tenha surgido em Êxodo como principio é em Levítico que ela é devidamente instituída pelo Senhor como uma ordenança. Mas o que é exatamente a expiação? Os nossos dicionários definem esta palavra da seguinte maneira: “É a satisfação oferecida à justiça divina”; “compensação do delito praticado”; “reparação”. Ou seja, como a desobediência e o pecado dos Israelitas eram uma ofensa direta a Deus, isto requeria um castigo, mas para que o próprio pecador não sofresse este castigo ele traria uma vitima, um animal para ser sacrificado em seu lugar. Isto era algo que apontava para o sacrifício perfeito que seria oferecido pelo próprio Deus para redimir o pecado de todos os que crerem no nome daquele que ele enviou. Por isto, quando João Batista viu o Senhor Jesus, disse: “... Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.” (João 1:29).
Um dos tipos de sacrifício que foram instituídos em Levítico para expiação foi o holocausto. Esta oferta poderia ser de gado, de ovelha (1:2) ou de aves, no caso rolas ou pombinhos, (1:14). Era uma oferta voluntária (1:3). E o ofertante deveria colocar a sua mão sobre a cabeça do holocausto, para que ele fosse “aceito a favor dele, para a sua expiação.” (1:4).
Também se instituiu a oferta de alimentos conhecida como oferta de manjares (2:1). O ofertante trazia o alimento aos sacerdotes e um deles a queimava como memorial sobre o altar; como oferta queimada, de cheiro suave ao Senhor (2:2). O que sobrava desta oferta era usado como alimento dos sacerdotes e de suas famílias (2:3).
Também havia o chamado sacrifício pacifico, o qual deveria ser oferecido sem defeito diante do Senhor (3:1). Uma característica sempre presente nos sacrifícios levíticos é que o sangue da vitima sempre deveria ser espargido sobre o altar em redor (3:2) e toda gordura deveria ser queimada sobre o altar (3:16). Os filhos de Israel eram proibidos de comer sangue ou gordura (3:17).

2: A oferta pelo pecado não intencional e a oferta pela culpa.
Quando algum Israelita pecasse por ignorância, contra algum dos mandamentos do Senhor, ou seja, transgredisse algum mandamento por não ter conhecimento dele (4:2). Então tão logo tomasse ciência disto deveria oferecer o chamado sacrifício pelo pecado não intencional, que seria executado pelo sacerdote para propiciação e perdão daquele pecado (4:20).
A oferta que deveria ser oferecida pelo pecado não intencional se aplicava tanto ao próprio sacerdote (4:3), como a um príncipe (4:22), como a qualquer pessoa do povo (4:27), ou até mesmo a toda congregação de Israel de forma coletiva (4:13).
A oferta pelo pecado não intencional também se aplicava aos casos em que houvesse omissão em denunciar o pecado de outrem (5:1), aos casos em que alguém tocasse algo que era considerado imundo (5:2-3), ou ainda, no chamado juramento temerário, de forma não intencional (5:4). Em sacrifício para expiação deste tipo de pecado deveria se trazer uma fêmea de gado miúdo (5:6), mas caso a pessoa não tivesse recurso suficiente poderia trazer para expiação da culpa que cometeu duas rolas ou dois pombinhos (5:7).
Quando alguma pessoa pecasse por ignorância nas coisas sagradas deveria trazer um sacrifício que é conhecido como oferta pela culpa (5:15), o mesmo deveria também fazer, caso retivesse algo que lhe foi confiado por outrem para guardar (6:2), ou se encontrasse algo perdido de alguém e não devolvesse (6:3). Nestes casos, além de apresentar a oferta, o transgressor deveria restituir o que reteve e ainda lhe acrescentar uma quinta parte (6:4-5).

3: Outros tipos de ofertas.
Levítico também nos fala sobre a lei do holocausto continuo, o holocausto deveria ser queimado sobre o altar toda a noite até pela manhã. O fogo que estava sobre o altar não poderia se apagar, os sacerdotes tinham a obrigação de mantê-lo, pois a ordem do Senhor era: “O fogo arderá continuamente sobre o altar; não se apagará.” (6:8-13).
Quando um sacerdote era ungido para exercer o seu oficio, havia uma oferta especifica que ele deveria oferecer ao Senhor, no dia de sua unção, a qual correspondia a décima parte de um efa de flor de farinha, a metade dela era oferecida pela manhã, e a outra metade à tarde (6:20-23).

II A INTERCESSÃO SACERDOTAL, AS LEIS DA PURIFICAÇÃO E O DIA ANUAL DA EXPIAÇÃO.

1: A intercessão sacerdotal
Para consagração dos sacerdotes, Moisés reuniu, por ordem do Senhor, a toda a congregação dos filhos de Israel à porta da tenda da congregação (8:4). E cumpriu ele todo o ritual que o Senhor havia ordenado para fazer expiação por eles (8:34). E os sacerdotes ficaram à porta da tenda da congregação dia e noite por sete dias para cumprir a ordenança do Senhor e os rituais por ele ordenados para a consagração deles (8:35).
Depois de se cumprir o período de sete dias da consagração dos sacerdotes, ao dia oitavo, Moisés disse a Arão e a seus filhos, e aos anciãos de Israel, que reunissem novamente a congregação e que oferecessem sacrifícios ao Senhor: holocaustos, sacrifícios pacíficos e ofertas de alimentos. Porque o Senhor haveria de lhes manifestar a sua glória (9:1-6). Primeiramente, Arão ofereceu sacrifícios para sua própria expiação (9:8), depois fez o mesmo em favor do povo (9:15). Depois de oferecidos os sacrifícios, Arão levantou as suas mãos ao povo e o abençoou, depois ele e Moisés juntamente abençoaram ao povo; e a glória do Senhor apareceu a todo o povo, porque o fogo saiu de diante do Senhor e consumiu o holocausto. Então todos do povo jubilaram e caíram sobre as suas faces (9:22-24).
Depois os filhos de Arão, Nadabe e Abiú, tomaram cada um o seu incensário e puseram neles fogo, e colocaram incenso sobre ele, e ofereceram fogo estranho perante o Senhor, o que ele não lhes ordenara. Por isto, saiu fogo de diante do Senhor e os consumiu; e morreram perante o Senhor (10:1-2). E Moisés impediu a Arão, e a seus filhos Eleazar e Itamar de lamentarem a morte de Nadabe e Abiú (10:6). Ainda depois disto, Moisés indignou-se contra Eleazar e contra Itamar, os filhos de Arão que ficaram, por que não comeram a expiação do pecado no lugar santo (10:16-17). Arão, porém os defendeu e Moisés deu-se por satisfeito (10:19-20). E o Senhor também não lhes infringiu castigo algum.

2: As leis da purificação

As leis de purificação diziam respeito principalmente a que animais os Israelitas poderiam, ou não, comer a sua carne (11:47). Mas também falava sobre a possibilidade de se tocar algum cadáver de animal, o que tornaria tal pessoa imunda até o final do dia (11:39). A necessidade dos Israelitas se santificarem através destas leis estava no fato do seu Deus ser também santo (11:44).
A lei da purificação também tratava da questão de quando a mulher desse a luz (12:2), do período que ela seria considerada imunda, o que era diferenciado dependendo do sexo do bebê (12:4-5), e dos sacrifícios que ela deveria oferecer para sua expiação a fim de tornar-se limpa, o que era exigido conforme a sua possibilidade financeira (12:6-8).
A lei da purificação também tratava dos casos de doença de lepra e dava a incumbência ao sacerdote de examinar o doente e declara-lo limpo ou imundo (13:2-46). Quando o sacerdote declarasse alguém limpo, ou seja, curado da sua lepra havia um sacrifício que o Senhor havia determinado que se oferecesse nestes casos (14:1-32). Quando o Senhor Jesus curava algum leproso, ele o orientava a cumprir estas exigências da lei levítica (Mateus 8:4).
A lei da purificação tratava ainda sobre o caso de alguém que tivesse a emissão de algum fluxo, tanto do homem que tivesse uma emissão de sêmen, quanto da mulher no seu período menstrual e do homem quando por ventura tivesse relações com ela neste período, ou ainda da mulher que estivesse enferma com alguma hemorragia vaginal (15:32-33).

3: O dia anual da expiação
O Senhor estabeleceu por estatuto perpétuo em Israel, um dia para se fazer expiação pelos seus pecados, uma vez no ano (16:34). E determinou o Senhor o dia para se realizar esta expiação, a saber: no sétimo mês, aos dez do mês (16:29).
No dia da expiação os filhos de Israel não poderiam trabalhar, seria um “sábado de descanso” (16:31).
O dia anual da expiação era o único dia em que o sumo sacerdote podia entrar no santuário para dentro do véu, diante do propiciatório que estava sobre a arca (16:2), e ele deveria ter com ele, ao entrar, as ofertas de animais oferecidos em sacrifício para expiação do pecado (16:3). Primeiramente ele fazia expiação por si próprio e pela sua casa (16:11), e depois pelo povo (16:15).

III A SANTIDADE, O REQUESITO PARA SE ANDAR DIANTE DE DEUS.

1- A santidade através dos padrões morais
O Senhor, desde então, exigiu que o seu povo se separasse dos costumes das nações que não o conheciam (18:3). E ao contrario disto, exigiu que eles andassem conforme os seus retos juízos (18:4-5).
Então o Senhor instruiu o seu povo a respeito de toda e qualquer relação que seria considerada moralmente condenável, a saber, as relações sexuais entre parentes como: Pai e filha, mãe e filho, madrasta e afilhado, irmão e irmã, Tio e sobrinha, avô e neta, e etc. (18:6-20). O Senhor também expressamente condenou a pratica homossexual (18:22), e qualquer tipo de relação sexual com animais (18:23).
Nas leis morais de levíticos também o Senhor deu instruções ao seu povo sobre: O respeito para com os pais (19:3), a guarda do descanso semanal (19:3), o cuidado com a idolatria (19:4), o cuidado com os necessitados (19:9-10), o cuidado com o furto, a mentira, a falsidade e o falso juramento (19:11-12), o cuidado para não oprimir o próximo, inclusive nas relações trabalhistas (19:13), o cuidado para com os deficientes (19:14), o cuidado para não torcer o juízo a favor dos ricos (19:15), o cuidado com o mexerico (19:16), o cuidado para não guardar ira e nem buscar vingança (19:18), o cuidado com a prostituição (19:29), o cuidado para não buscar adivinhadores e encantadores (19:31), o cuidado com o preconceito contra o estrangeiro (19:33-34) e o cuidado com a injustiça e desonestidade nas relações comerciais (19:36).
O motivo pelo qual Deus requer santidade do seu povo escolhido é por ser também ele um Deus santo (20:26). Pessoas que permitissem em si a possessão de espíritos malignos, que si diziam adivinhadores ou que afirmassem se comunicar com os mortos deveriam ser apedrejadas (20:27). Dos sacerdotes e das suas famílias, Deus exigia um padrão moral ainda mais elevado (21:1-15). E para se chegar ao altar o sacerdote não poderia ter qualquer defeito físico (21:16-24). As ofertas trazidas para serem oferecidas ao Senhor eram santas e ninguém que fosse considerado imundo poderia comer delas (22:1-16). Qualquer oferta oferecida a Deus deveria ser isenta de defeito, caso contrario não seria aceita a favor do ofertante (22:18-20).

2- A santidade através da adoração

A principal forma dos Israelitas expressarem a sua adoração a Deus era através das solenidades ao Senhor, as quais ele ordenou que eles lhe consagrassem. Eram elas: O próprio sábado (23:3), a páscoa e a festa dos pães ázimos que começava no dia quatorze do primeiro mês e se seguia por sete dias a partir do dia quinze (23:5-6), a festa das primícias que ocorria na primeira sega da colheita (23:10) e o pentecoste que era celebrado sete semanas, ou cinquenta dias, depois das primícias (23:15-16). No mês sétimo, no primeiro dia do mês, havia a festa das trombetas (23:24), que certamente era uma convocação para a solenidade que vinha a seguir, o dia da expiação, o que acontecia no dia doze deste mesmo mês (23:27). E por fim, a festa dos tabernáculos que se iniciava no dia quinze, também do mês sétimo (23:34) e os filhos de Israel habitavam em tendas por sete dias (23:42) e se alegravam perante o Senhor com ramos de árvores e palmeiras (23:40).
O Senhor também ordenou aos filhos de Israel que trouxessem azeite de oliveira, puro, batido, para a luminária, para manter as lâmpadas acesas continuamente perante ele. E os sacerdotes também deveriam cozer doze pães, e também apresentar perante o Senhor continuamente, juntamente com incenso puro, repondo-se isto a cada dia de sábado por aliança perpétua (24:1-8).

 3-  A santidade através das leis da reparação, da Obediência e da consagração

O Senhor determinou que depois de cada seis anos cultivando a terra os filhos de Israel lhe daria um ano de descanso, era o sábado de descanso para a terra (25:1-7).
A cada sete semanas de anos, sete vezes sete anos; ou seja, quarenta e nove anos, se passaria, no dia da expiação, a trombeta do jubileu santificando o ano quinquagésimo (25:8-10). No ano do jubileu também não se semearia a terra (25:11-12), e qualquer israelita que tivesse vendido alguma possessão sua, no ano do jubileu a recuperaria (25:13). De maneira que quando um filho de Israel vendia alguma coisa, o seu preço era calculado conforme os anos que faltavam para o jubileu, pois chegando este, o bem deveria ser devolvido (25:14-17). Quando um Israelita se tornasse servo de outro, permaneceria também somente até o ano do jubileu, quando então tornaria a sua possessão (25:39-41). Desta forma o ano do jubileu promovia a justiça social entre os filhos de Israel.
E o Senhor prometeu a seu povo que, se eles guardassem os seus mandamentos, lhes daria abundância de alimento e também paz e segurança (26:3-10). Mas se não ouvissem os seus mandamentos o Senhor lhes castigaria com enfermidades, com a oposição dos seus inimigos, com as feras do campo, com a fome e com várias pestes (26:14-30).  E ainda mais, não aceitaria o Senhor as suas ofertas (26:31).
Se o povo, porém, confessasse a sua iniquidade o Senhor se lembraria da sua aliança com seus pais (26:40-42). Porque nem mesmo os enviando para o cativeiro o Senhor poderia invalida-la. Mas diz ele: “Antes por amor deles me lembrarei da aliança com os seus antepassados, que tirei da terra do Egito perante os olhos dos gentios, para lhes ser por Deus. Eu sou o SENHOR.” (26:44-45).

Conclusão

Ainda que o livro de Levítico pareça ser uma realidade distante para nós, crentes do novo testamento, ao conhecê-lo melhor percebemos que os seus principais ensinamentos são tremendamente atuais e importantíssimos para a nossa caminhada na fé. A expiação pelo sangue que Levítico retrata, foi o símbolo perfeito do verdadeiro sacrifício que o Senhor Jesus fez para purificar a cada um de nós que verdadeiramente buscamos andar na sua luz. A santificação que Deus exigia do seu povo é semelhante a própria santificação que Deus exige hoje, daqueles que almejam ver a sua face.