Fundamentos bíblicos para relacionamentos saudáveis (lição EBD)
TEXTO DESTAQUE
“Oh! Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união!” (Sl 133.1).
OBJETIVOS
Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:
• DESCREVER os fundamentos teológicos dos relacionamentos cristãos;
• APRESENTAR as bases dos relacionamentos saudáveis;
• COMPREENDER os princípios dos relacionamentos saudáveis.
TEXTO BÍBLICO
Gênesis 2.18-24.
18 — E disse o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma adjutora que esteja como diante dele.
19 — Havendo, pois, o Senhor Deus formado da terra todo animal do campo e toda ave dos céus, os trouxe a Adão, para este ver como lhes chamaria; e tudo o que Adão chamou a toda a alma vivente, isso foi o seu nome.
20 — E Adão pôs os nomes a todo o gado, e às aves dos céus, e a todo animal do campo; mas para o homem não se achava adjutora que estivesse como diante dele.
21 — Então, o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu; e tomou uma das suas costelas e cerrou a carne em seu lugar.
22 — E da costela que o Senhor Deus tomou do homem formou uma mulher; e trouxe-a a Adão.
23 — E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos e carne da minha carne; esta será chamada varoa, porquanto do varão foi tomada.
24 — Portanto, deixará o varão o seu pai e a sua mãe e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne.
INTRODUÇÃO
“Nenhum homem é uma ilha isolada”. Essa importante estrofe do pregador John Donne (1572-1631), lembra-nos de que vivemos numa comunidade global, formada por pessoas de etnias e culturas diferentes. Todos recebemos do Criador a mesmíssima vida soprada em Adão (Gn 2.7; 5.3; At 17.25,26). O Senhor é doador da vida e de relacionamentos saudáveis, “porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos” (At 17.28). Nessa lição, estudaremos os fundamentos bíblicos para a vida em comunidade e para os relacionamentos saudáveis.
I. DEUS VIU QUE NÃO É BOM QUE O HOMEM VIVA SOZINHO (Gn 2.18)
1. Relacionamento com Deus: A imagem divina.
E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra. Gênesis 1:26
Na Antiguidade, apenas os grandes reis eram considerados “imagem de Deus”. Todavia, a Bíblia revela que isso não estava limitado aos monarcas, mas a todo homem — todos foram criados por Deus! Quão inovador não soou essa boa-nova aos ouvidos dos escravos, pobres, crianças, anciãos e mulheres do Antigo Oriente: “E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou” (Gn 1.27; 1Co 11.7). Todos participam da vida do Criador!
2. Relacionamento com a criação: distinção e preservação (Gn 1.21-25).
E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra. Gênesis 1:28
O mundo não é uma emanação divina. Tudo que existe foi criado por Deus. Essa mensagem soou como uma novidade na Antiguidade, acostumada a ver nas coisas criadas um reflexo da divindade (Dt 4.15-19; Rm 1.20-23). A Bíblia ensina que somente Deus é digno de adoração. Tudo é criação de Deus e somente o Senhor é Deus! O Deus que se relaciona com a humanidade é o mesmo que criou livre e amorosamente todas as coisas e as entregou ao cuidado do homem.
3. Relacionamento com o outro: identidade e solidariedade (Gn 2.18-25).
E Adão pôs os nomes a todo o gado, e às aves dos céus, e a todo o animal do campo; mas para o homem não se achava ajudadora idônea. Gênesis 2:20
O Senhor afirma que “não é bom que o homem esteja só” (Gn 2.18). Embora o homem desfrutasse da comunhão com o Criador e com a criação ele ainda estava incompleto. Faltava a dimensão interpessoal e afetiva (o outro): o relacionamento com outros seres humanos pelo diálogo, amizade e amor. Nisto se constitui a nossa identidade: o eu (si) — o que sou — e o outro — o que não sou. No primeiro, “o que sou”, somos chamados a ser sujeitos e controlar nossas vidas (rejeitando a dominação, a escravidão — autonomia), a escolher por nós mesmos (rejeitando a manipulação — liberdade), e a desenvolver meu modo próprio de ser pessoa (rejeitando a coisificação e instrumentalização — sujeito). No segundo, “o outro”, é verdadeiro o mesmo em relação ao primeiro, permitindo que aquilo que desejo para mim (autonomia, liberdade, condição de sujeito) seja também direito do outro, numa relação solidária.
Para refletir:
A afetividade é uma qualidade ou condição do ser psíquico que caracteriza uma capacidade de vivenciar internamente a realidade exterior, sentindo o impacto que essa realidade produz no interior na pessoa. É por meio dela que a pessoa reage emocionalmente a um estímulo. Ela é um modo de ser, porque o ser humano não “tem uma afetividade”, ele é afetividade.
(1) “A afetividade que uma pessoa sente por outra pode levá-la a racionalização (enganando-se a si mesma) e a verbalização (confundindo os outros) para camuflar os defeitos do outro alertado por pais, conselheiros e amigos?”
(2) “Você é capaz de identificar a influência da razão e da afetividade em suas decisões?”
Pense!
A imagem de Deus capacita-nos a viver plenamente com Deus, a distinguir-se da criação e a entender o próximo. Como valorizamos a imagem de Deus em nós?
Ponto Importante
O homem foi criado para viver e valorizar relacionamentos corretos e saudáveis.
II. FUNDAMENTOS DOS RELACIONAMENTOS SAUDÁVEIS (Rm 12.9-21)
1. Amor fraterno (Rm 12.10).
Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros. Romanos 12:10
A principal base de todo relacionamento saudável é o amor fraterno. É um amor interpessoal, que valoriza as qualidades, respeita as diferenças e suporta as fragilidades. É um amor capaz de se alegrar com as conquistas do outro, e de se entristecer com o infortúnio alheio (Rm 12.15). Ele é cordial e fraterno (Rm 12.10), e se esforça pela paz (v.18). O amor fraternal desenvolve-se inicialmente na família, entre os parentes consanguíneos, porque o núcleo familiar é o lugar mais apropriado para o surgimento e crescimento das interações humanas frutíferas que se estenderão por toda vida.
2. Amor agápico (Jo 13.34).
Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. João 13:34
Este é o amor com que Deus ama-nos (Jo 3.16). Na verdade, o amor que é o próprio Deus (1Jo 4.8,16). Esse é o amor pelo qual Deus deu seu Filho para morrer pelos homens (1Jo 4.10), e o Filho deu-se a si mesmo à morte pela humanidade (Jo 15.13). Devemos “amar o próximo como a nós mesmos” (Mt 22.39). Mas tal amor pode sucumbir ao egoísmo, e aos interesses pessoais. Todavia, esse amor é derramado no coração do filho de Deus para que ele ame como Deus também ama (Rm 5.5; Jo 13.35). É desenvolvido na caminhada diária com o Senhor e com a comunidade de fé.
3. Amor agápico ordenado por Jesus que identifica os cristãos.
Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros. João 13:35
Embora o amor agápico não se apresente em sua plenitude nas limitações humanas, em Cristo, a pessoa pode amar com a mesma excelência com que Cristo ama e, assim, cumprir o mandato divino (Jo 13.34). Esse amor agápico é uma ordenança e a identidade (1Jo 4.7-13) mediante a qual o mundo conhece os discípulos de Cristo (Jo 13.35). Os relacionamentos entre os filhos de Deus devem superar suas diferenças e inquietações por meio do amadurecimento do amor agápico na vida da comunidade de fé, a Igreja (1Jo 4.16-21).
Pense!
O amor fraternal e o agápico são a essência dos relacionamentos saudáveis e frutíferos. O que implica a falta deles em nós?
Ponto Importante
A vocação cristã consiste em refletir intensamente o mesmo amor de Jesus.
III. PRINCÍPIOS PARA SE ESTABELECER RELACIONAMENTOS SAUDÁVEIS
1. Respeito.
Portanto, dai a cada um o que deveis: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra. Romanos 13:7
O respeito é um valor moral necessário ao convívio saudável e harmônico. Por meio dele apreciamos e reconhecemos o próximo e os seus direitos: à vida, à felicidade; ao trabalho; ao culto; à livre expressão de ideias. No mundo globalizado e multicultural de hoje, o respeito é uma necessidade para a boa convivência. Nenhum relacionamento saudável subsiste sem respeito mútuo (Rm 13.7; Ef 5.33; 1Tm 3.8; Tt 2.2 — ARA).
2. Ética (Êx 20; Mt 5-7; 2Tm 3.16).
Toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça, para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído para toda boa obra. 2 Timóteo 3:16,17
Em aspecto prático, a ética refere-se às normas de conduta sob as quais a sociedade e o indivíduo vivem. Todavia, a base da ética cristã não são os costumes sociais, mas o caráter santo e misericordioso de Deus, os ensinos de Jesus, e as Escrituras. Estes fundamentam a vida e os relacionamentos saudáveis dos cristãos.
3. Alteridade (distinção do outro) (Lc 6.36,37).
Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso.
Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; soltai, e soltar-vos-ão. Lucas 6:36,37
O homem é um ser social! Ele vive em comunidade e interage com o outro, que lhe é diferente. Isto cria uma relação de interdependência e solidariedade, que são necessárias ao desenvolvimento pessoal e coletivo do ser humano. Por meio da alteridade a pessoa se coloca no lugar da outra, procurando entendê-la, respeitando as diferenças que existem entre ambas.
Pense!
Respeito, ética e alteridade são como estradas de duas vias. O que aconteceria se vivêssemos preocupados apenas conosco?
Ponto Importante
O amor verdadeiro abre-se ao mistério que é o outro.
CONCLUSÃO
A Sagrada Escritura revela o maior de todos os segredos para a construção de um relacionamento saudável: O Senhor não estava solitário na eternidade, mas compartilhava da comunhão perfeita do Filho e do Espírito Santo! É a relação perfeita de amor entre as três benditas pessoas da Deidade que possibilita-nos entender o desejo do Senhor Jesus ao dizer: “Que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17.21). Sejamos unidos, nos esforcemos para sermos unidos, e vivamos relacionamentos saudáveis, porque essa é a vontade de Deus.
Lição 1: Fundamentos bíblicos para relacionamentos saudáveis
4º Trimestre de 2015 CPAD Comentarista: Esdras Costa Bentho (adaptado)
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